A saga da família Zarzur
- Em 15/12/2022
Nada melhor que um caso prático para entendermos as consequências de determinados atos ou conjuntos de atos ou omissões.
Nesse contexto, vamos conversar sobre mais um capítulo da saga da Família Zarzur, cujos conflitos decorrentes do patrimônio bilionário deixado pelo patriarca Waldomiro Zarzur, segue no Poder Judiciário, por meio de ações judiciais.
Porém, foi amplamente noticiado que o embate entre os irmãos se estendeu às cortes norte-americanas, onde Adele Zarzur contratou profissional especializado para realizar uma varredura de eventuais bens em nome de seus irmãos Roberto e Ricardo Zarzur e do patriarca Waldomiro Zarzur, no exterior, para provar que:
- podem existir bens ocultados e que não fizeram parte do inventário aberto e concluído há alguns anos no Brasil e reaberto, recentemente, diante dos inúmeros conflitos entre os herdeiros; e
- que houve transações de transferência de ativos.
Tal recurso, o uso de provas obtidas em território estrangeiro para ações que tramitam perante o Poder Judiciário brasileiro, não é inédito e é aceito pela Justiça brasileira.
Anteriormente, Adele Zarzur que havia contratado especialistas contábeis brasileiros para verificar se houve desvios de bens, em 17 empresas do grupo de Waldomiro Zarzur, além de defender a necessidade de documentos para se determinar se houve atos ilícitos.
Tal medida destaca dois pontos relevantes:
- Quem administra o patrimônio familiar: a necessidade e importância da transparência na gestão do patrimônio familiar; e
- O protocolo familiar: a definição de regras para a administração do negócio, definindo-se o papel de herdeiros e sucessores e os direitos e deveres de cada parte.
Quem administra o patrimônio familiar?
O patriarca ou a matriarca definirá quem será o responsável pela administração dos bens que compõem o legado familiar até o seu falecimento, podendo tal desejo ser formalizado.
Em caso de administração em conjunto com herdeiros e sucessores, as regras da gestão, a competência de cada membro da família e seus respectivos poderes devem ser especificados, para que a vontade do patriarca/matriarca prevaleça.
Critério objetivos para a alienação de bens e seu respectivo valor, contratação de empréstimos, realização de negócios para se evitar o benefício de terceiro ou de herdeiro mal-intencionados devem estar claras.
Além disso, estabelecer-se quóruns de aprovação específicos para temas relevantes, como venda de imóvel e eleição de administradores em reunião ou assembleia de sócios, garante a transparência na administração.
Os negócios realizados em desobediência a tais regras são nulos e podem ser previstas punições aqueles que agirem de tal forma.
As regras zelam pela administração profissional e transparente do negócio familiar, impedindo que herdeiros, sucessores e terceiros ajam de forma duvidosa que possa prejudicar os negócios sociais.
Importante lembrar que com o usufruto de quotas, aquele que receber tal benefício poderá votar e reunião ou assembleia de sócios representando tais quotas, receber os lucros e dividendos relacionados às quotas, as quais, enquanto perdurar o usufruto, não poderão ser alienadas, cedidas ou dadas em garantia.
O protocolo familiar: a definição de regras para a administração do negócio, definindo-se o papel de herdeiros e sucessores e os direitos e deveres de cada parte
Na customização da arquitetura sucessória, o primeiro passo é entender cada família, quem são seus membros e as características de cada um, os negócios desenvolvidos e seus respectivos riscos e, acima de tudo, os desejos e necessidades do patriarca/matriarca.
Nesse momento, são definidas as ferramentas a serem utilizadas como, por exemplo:
- Quando transferida a propriedade de bens imóveis e quotas, o usufruto, ou seja, que se beneficia dos rendimentos relativos aquele bem como, por exemplo, valores recebidos a título de lucros e dividendos e aluguel. Ainda, quando há usufruto, aquele que detiver a propriedade do bem, não pode vender o bem em questão;
- Protocolo familiar: documentos no qual direitos e deveres de herdeiros e sucessores são definidos, inclusive as regras para administração de bens e a destinação de valores;
- Contrato Social ou Acordo de Sócios: nele se determina as regras para gestão de holding patrimonial ou outra empresa por meio da qual sejam desenvolvidos os negócios da família, especialmente quanto à distribuição de lucros e dividendos, eleição e renúncia de administrador, diretivas para a tomada de decisões, dente outros; e
- Doação Condicional: instrumento público por meio do qual ao se doar determinado bem, se estabelece as condições para a doação como, por exemplo, destinação de imóvel e destinação de rendimentos, sob pena de nulidade do ato.
Importante lembrar, que todos esses documentos podem ter seu cumprimento imposto a aquele que não honrar o que fora acordado!
O protocolo familiar é um documento a ser acordado entre as partes, o qual pode estabelecer os direitos do patriarca e da matriarca e, simultaneamente, direitos e deveres de seus herdeiros e sucessores, quando da realização da arquitetura sucessória.
Ou seja, o patriarca ou matriarca ao adiantar a sua herança em vida, e determinar que seus herdeiros e sucessores, até o seu falecimento, cumpram condições específicas para lhes garantir sustento digno, saúde, alimentação, de dentre outros.
Por exemplo, obrigação de que os herdeiros utilizem os rendimentos decorrentes dos bens que compõem o patrimônio para pagar plano de saúde do patriarca e da matriarca, valores mínimos mensais a serem transferidos a esses para a manutenção de condições de vida dignas.
O protocolo familiar pode conter desde obrigações financeiras, morais e determinar as regras para a resolução de conflitos e desavenças como nomear um mediador que possa contribuir para a solução amigável da questão.
O protocolo, ainda, pode especificar penalidades na hipótese de inadimplemento, podendo ser executado perante o Poder Judiciário quando necessário.
A estruturação da arquitetura sucessória pelos profissionais especializados do Azevedo Neto Advogados, analisa as características, particularidades e necessidades de cada família, priorizando os desejos e a segurança do patriarca e da matriarca, para evitar os conflitos que, como no caso da família Zarzur, tem o potencial de destruir um legado!
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