De motores à automação industrial e aos negócios sustentáveis: A história da WEG, uma das maiores empresas familiares brasileiras
- Em 14/06/2024
Recentemente, a brasileira Livia Voigt foi eleita a bilionária mais jovem do mundo, aos 19 anos, segundo a revista Forbes, com uma fortuna avaliada em USD 1,1 bilhões.
Livia Voigt é neta de Werner Ricardo Voigt, um dos fundadores da WEG, empresa que nasceu em Santa Catarina, focada na fabricação de motores elétricos, em 1961, com capital social inicial de Cr$3.600,00.
Além dela, outros membros da família Voigt figuram na lista da Forbes: Eduardo Voigt Schwartz (US$ 1,5 bilhão), Mariana Voigt Schwartz Gomes (US$ 1,3 bilhão), Anne Werninghaus (US$ 1,2 bilhão) e Dora Voigt de Assis (US$ 1,1 bilhão). Juntamente com Livia, representam a terceira geração da família Voigt na WEG.
No total, são 29 bilionários que têm a Weg como origem de sua fortuna, empresa cujo faturamento líquido em 2023 foi de R$ 32,5 bilhões e o lucro líquido de R$ 5,7 bilhões.
Ao longo de 63 anos, a WEG percorreu um longo caminho, e hoje possui unidades industriais em 14 municípios, além de 48 unidades fabris pelo mundo, na África do Sul, Alemanha, Argentina, Áustria, Colômbia, China, Espanha, Estados Unidos, Índia, México, Portugal e Turquia. Fabricando componentes eletroeletrônicos, produtos para automação industrial, transformadores de força e distribuição, geradores, tintas líquidas e em pó e vernizes eletroisolantes.
Atualmente, a WEG é reconhecida como uma das maiores fabricantes de equipamentos elétricos do mundo.
Hoje, vamos entender como seus fundadores não apenas preservaram seu patrimônio, mas garantiram seu crescimento pelas gerações futuras, ao longo de 63 anos de história:
- A história da WEG:
- O começo da WEG em Jaraguá do Sul/SC
- Muito além do território brasileiro.
- A importância da arquitetura sucessória no crescimento dos negócios familiares:
- A profissionalização da gestão;
- O Acordo de Sócios;
- Fortalecendo vínculos e a harmonia entre os membros da família.
- A arquitetura sucessória e o legado familiar
- Do Contrato ou Estatuto Social
- Do Acordo de Sócios ou Acionistas
- A importância da arquitetura sucessória.
A história da WEG
O começo da WEG em Jaraguá do Sul/SC
Em 1961, com a proposta de fabricar motores elétricos, Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus fundaram a WEG.
Um eletricista, um mecânico e um administrador de empresas, uniram suas habilidades para iniciar o que hoje conhecemos como WEG, que então se denominava Eletromotores Jaraguá, com Cr$3.600,00, valor equivalente, à época, a três fuscas.
Seu primeiro parque fabril começou a funcionar em 1964. Em 1970, passou a exportar seus motores para Guatemala, Uruguai, Paraguai, Equador e Bolívia.
Após 8 anos, já exportavam motores para 20 países.
Nos anos 80, objetivando “desenvolver tecnologias e soluções para contribuir na construção de um mundo mais eficiente e sustentável”, a WEG ampliou seu portfólio de produtos, como resultado, em 1988, investiram em um braço de automação e, em 2012, investiu no mercado de fornecimento de geração de energia eólica.
Ao longo de 63 anos, a WEG adquiriu mais de 20 empresas, no Brasil e no exterior.
A WEG abriu suas ações na Bolsa de Valores, em 1971, sendo a 8ª maior empresa em valor de mercado entre as empresas brasileiras de capital aberto. Nos últimos 15 anos, suas ações se valorizaram 2923,81%!
Mais do que uma empresa, a WEG reflete os valores de seus fundadores, os quais sempre acreditaram em sua visão do futuro, investindo em educação, sustentabilidade e no meio ambiente. Em 1968, ofereciam treinamento técnico para capacitar colaboradores e inserir adolescentes no mundo da tecnologia. Em 1972, investiram em seu primeiro parque de reflorestamento.
Muito além do território brasileiro
A presença da WEG é mundial, possui fábricas em 12 países e operações comerciais e filiais em 36 países, com distribuidores em 120 países, além de 15 fábricas no Brasil.
A WEG possui filiais na Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, França, Espanha, Suécia, Singapura, Rússia, Equador, além de fábricas na Argentina, México, Portugal, China, Índia, Estados Unidos, Alemanha, África do Sul, entre outros.
Inquestionavelmente, um crescimento surpreendente ao longo de 63 anos reconhecido mundialmente.
A importância da arquitetura sucessória no crescimento dos negócios familiares
A profissionalização da gestão
Em 1989, o fundador Eggon João da Silva saiu da presidência da WEG e os fundadores passaram a compor o Conselho de Administração, confiando a gestão dos negócios a Décio da Silva, seu filho, o qual permaneceu no cargo por 18 anos, até 2007, e, desde 2009, é presidente do Conselho de Administração da WEG.
Décio passou por diversos cargos na empresa até ser eleito presidente da WEG, refletindo claro processo de transferência da gestão para as gerações futuras, do qual parte fundamental é a preparação dos gestores para terem o conhecimento e experiência necessários ao cargo.
De 2007 a 2023, o presidente da WEG foi Harry Schmelzer Junior, o qual hoje compõe o Conselho de Administração.
Harry comprova a importância da profissionalização na gestão, uma vez que trabalhou na WEG desde 1981, passando por diversos cargos, possuindo o conhecimento técnico que contribui, não apenas, para a gestão dos negócios, mas para sua continuidade com eficiência e sustentabilidade, focando na internacionalização e desenvolvimento de novos produtos, inclusive no segmento de descarbonização.
A profissionalização da gestão é mais do que experiência e conhecimento, implica em compartilhar os mesmos valores de seus fundadores.
Com a saída de Harry da presidência, observando a profissionalização da gestão, seu sucessor é Alberto Yoshikazu Kuba, o qual possui experiência de mais de 21 anos na WEG, iniciando sua carreira como trainee na empresa.
Sua formação dentro da empresa, no Brasil e no exterior (China e Estados Unidos) é uma forma de garantir que os propósitos da WEG, bem como os valores de seus fundadores sejam perpetuados.
A WEG é um exemplo de formação de gestores para as gerações futuras, os quais, podem ou não ser membros da família.
Ora, no caso em questão, os herdeiros como Livia Voigt não participam da gestão dos negócios, mas são sócios de holding patrimonial que detém a maioria do capital social da WEG. Livia, aos 19 anos, dedica-se à faculdade de psicologia.
No processo de profissionalização da gestão, é imprescindível conhecimento técnico, experiência profissional e, acima de tudo, compartilhar valores e objetivos.
O Acordo de Sócios
Fortalecendo vínculos e a harmonia entre os membros da família
51% das ações da WEG são detidas por holding patrimonial, a qual possui um Conselho de Família, da qual Marian Voigt Schwartz, neta de um dos fundadores da WEG, faz parte.
O Conselho Familiar foi criado em 2002, como objetivo de resguardar o Acordo de Sócios, elaborado em 1978, cujo foco é estabelecer comunicação entre a empresa e os membros das famílias, por meio de atividades que fortaleçam os vínculos.
Se você acompanha nossos artigos, perceberá que a falta de comunicação e de confiança é motivo de muitos conflitos familiares, podendo ser a causa de conflitos familiares entre os seus membros, como no caso da Cosan (https://en.azevedoneto.adv.br/das-100-maiores-empresas-brasileiras-quantas-sao-empresas-familiares-qual-o-segredo-do-sucesso/), da Família Steinbruch (Grupo Vicunha e CSN – https://en.azevedoneto.adv.br/familia-em-guerra-o-que-acontece-nos-bastidores/), dentre outra, e talvez a causa da perda do patrimônio familiar.
Segundo Marian, “A família transcende o negócio. Nesse sentido, promovemos a disseminação de princípios e valores, e é aí que mora a parte mais rica da cultura familiar. Planejamos ações de filantropia e impacto social. Temos também uma casa de campo, um ótimo laboratório para tomada de pequenas decisões”.
Reuniões mensais para discutir os negócios familiares, acesso às informações, são apenas uma parte do processo, que envolve a preparação da 4ª geração para que estes deem continuidade ao legado dos fundadores.
Identificação de interesses e habilidades, e seu respectivo desenvolvimento e capacitação, são essenciais à preparação das novas gerações.
Conhecimento e preparação não são essenciais apenas à gestão dos negócios, mas à harmonia entre herdeiros e sucessores, que participam da gestão, ainda que indiretamente, mas de forma consciente.
O acordo de sócios é uma ferramenta importante na arquitetura sucessória, não apenas para a gestão, mas também para a harmonia familiar.
A arquitetura sucessória e o legado familiar
Ao se ingressar em uma sociedade, que tenha como sócios membros da sua família, amigos “de longa data”, ou investidores, há muitos cuidados que devem ser observados para se especificar os direitos e obrigações dos sócios, bem como as regras para retirada (saída espontânea) de um sócio ou sua exclusão (https://en.azevedoneto.adv.br/ser-ou-nao-ser-socio-eis-a-questao).
Do Contrato ou Estatuto Social
O contrato social (para as sociedades empresárias limitadas) e o estatuto social (para as sociedades anônimas) especificam:
- Razão social e sede;
- Tempo de duração;
- Capital social e sua distribuição;
- Regras para a administração da sociedade (quem representa a sociedade e as respectivas regras);
- Os temas que devem ser objeto de aprovação dos sócios;
- As regras de sucessão de sócio em caso de falecimento;
- As regras para retirada e exclusão de sócios.
Quanto à administração social, no contrato ou estatuto social, pode-se determinar as regras do dia a dia dos negócios, ou seja, por exemplo, os limites dos poderes dos representantes legais (por exemplo, quantos administradores ou diretores devem assinar conforme o valor do documento), bem como a denominação que se dará ao corpo administrativo, se serão denominados de diretores ou administradores.
Ao se determinar tais regras, garante-se a transparência na administração, estimulando a confiança entre os sócios.
No tocante aos assuntos que devem ser objeto de aprovação de sócios em Reunião de Sócios ou Assembleia de Acionistas, permite-se que todos tenham conhecimento de decisões a serem tomadas e delas participem ativamente, como na aquisição de ativos de valores representativos ou na contratação de empréstimos para desenvolver determinado projeto.
As regras para a sucessão em caso de falecimento ou impedimento de sócio são importantes, uma vez que nem sempre os sucessores estão preparados para assumir as funções do até então sócio no empreendimento.
Então, se faz possível estabelecer regras para tanto, desde a forma de pagamento da participação na sociedade aos seus sucessores, quando de sua retirada, até os requisitos para que filhos e netos participem da gestão social.
Na retirada de sócios, estabelece-se as regras de pagamento dos valores a ele devido em decorrência de sua participação societária.
Se as regras estão claras desde o início, posteriormente, é muito difícil buscar a sua anulação, ainda que por meio de ação judicial.
Por fim, a exclusão de sócios. Ainda que prevista no Código Civil, é sempre recomendado especificar as circunstâncias em que a sociedade e seus sócios podem requerer a exclusão de sócio, definindo o que os sócios compreendem como ato de inegável gravidade.
Do Acordo de Sócios ou Acionistas
Além do contrato ou estatuto social, determinadas regras podem ser estabelecidas em acordo de sócios ou acionistas, documento que não é registrado junto aos órgãos públicos.
O acordo traz as regras em caso de, por exemplo:
- aportes de capital;
- o direcionamento de voto em reuniões de sócio ou assembleias gerais,
- a indicação e eleição de membros da diretoria e do conselho de administração, quando aplicável;
- direito de preferência na aquisição de quotas ou ações;
- qual a regra a ser observada quando do ingresso de investidores e venda da sociedade;
- as condições nas quais pode haver a alienação e aquisição de ativos, como imóveis ou outros que tenham relevância para a sociedade, seja financeiramente, seja por sua relação com o objeto social; e
- em caso de sucessão dos sócios, quando herdeiros e sucessores poderão ser sócios e/ou participar da administração da sociedade.
Em conjunto com o contrato ou estatuto social, é um documento essencial para a especificação de direitos e obrigações das partes.
Quando falamos na retirada ou exclusão de sócios, um assunto que sempre causa polêmica é o valor a ser pago ao sócio retirante ou excluído.
Essa discussão pode ser evitada quando o contrato ou estatuto social estabelece se a apuração do valor se dará por valor contábil, considerando, ativos (tangíveis e intangíveis) e passivos ou, até o valor apurado em avaliação financeira para realização de fusão e aquisição, trazendo detalhes para a realização do cálculo, bem como a forma de pagamento do valor resultante.
Podem, ainda ser previstos a solução do conflito por câmara de mediação, bem como mecanismos de conciliação entre os sócios, para se evitar a demora do Poder Judiciário.
A importância da Arquitetura Sucessória
Inequívoco que a arquitetura sucessória é uma ferramenta a seu alcance para evitar que desentendimentos destruam o seu empreendimento e de seus sócios.
Desde a definição de formas de conciliação às regras de administração da gestão dos negócios, a elaboração e celebração dos instrumentos societários customizados à sua necessidade são uma ferramenta eficaz para evitar conflitos e preservar o seu negócio.
Consulte os advogados especializados do Azevedo Neto Advogados e entenda como tais ferramentas podem agregar valor e consolidar o seu negócio.
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